Relato do Parto – Pela Mãe

Esse é o relato da Letícia, se você quiser ver o meu é só clicar aqui

 

Desde a gestação do Arthur o meu desejo era ter parto(s) o mais naturais possíveis, sem intervenções, sem analgesia, porque queria conseguir sentir tudo que aconteceria com o meu corpo. Foi assim no parto do Arthur. Foi uma (primeira) experiência transformadora, sem dúvidas! Aprendi muito MUITO sobre o meu corpo naqueles minutos (foi um parto muito rápido também). Dessa vez, para a chegada da Gabriela, o que eu “adicionei” no meu plano de parto foi a busca pela melhor posição para trazer minha bebê ao mundo. Posição que eu queria escolher sozinha, na hora, a partir do que eu sentisse. Meu médico concordou e também combinou comigo que ele não falaria nada durante o trabalho de parto para deixar eu me concentrar e guiar o meu próprio parto (a não ser, claro, se ele achasse importante me conduzir em algum momento). Eu saí dessa consulta do pré-natal rindo sozinha! E chorando também! Estava emocionada por ter apoio do meu médico para o que eu tanto queria: um parto ativo e consciente.
No dia 24 de abril (40 semanas + 2 dias) acordei às 4h da manhã com contrações bem doloridas de 7 em 7 minutos. Esperei ter 3 contrações para realmente ter certeza. Eram doloridas e eram ritmadas, então estava acontecendo! Fui ao banheiro fazer xixi e vi um sanguinho no papel. Liguei para o médico dali mesmo. Acordei ele dizendo “Doutor Jean, é a Letícia. Agora vai!”. Ele disse que o sangue era da dilatação acontecendo e que eu devia ir para o hospital, que ele iria logo em seguida. Acordei o Thiago e liguei para as minhas irmãs. Em 8 minutos elas estavam na minha casa. Uma nos levaria ao hospital e a outra ficaria com o Arthur. Quando elas chegaram eu estava terminando de me arrumar. Faltava passar rímel. Eu deixei uma marca de batom na mão do Arthur e pedi para a minha irmã explicar que fomos buscar a mana. Na hora de sair de casa elas ainda presenciaram uma contração. Me debrucei sobre uma parede esperando passar. No carro deu tempo para ter 2 contrações (já estavam de 3 em 3 minutos). Sentada era mil vezes pior de aguentar a dor.

Chegamos ao hospital às 5h em ponto. Subimos para o 8º andar e fomos fazer o cadastro para a internação. É muito chato ter que dar teus dados se contorcendo a cada 3 minutos. Logo fui chamada para a triagem. Bem na hora estava no meio de uma contração na sala de espera. Me colocaram no primeiro quartinho, bem em frente ao posto médico. A plantonista veio e fez o exame de toque e disse “Dilatação total. Prepara uma sala. Já ligaste pro teu médico?” Logo após isso uma enfermeira veio instalar o aparelho da tococardiografia na minha barriga e também aferir minha pressão. A Gabi estava bem. Tive uma contração deitada na cama e disse que me levantaria pois não teria como aguentar a dor deitada (realmente estavam muuuuito doloridas as contrações. Na vez do Arthur não foi nessa intensidade). Para a minha surpresa a enfermeira disse que eu não podia me levantar, que estavam vendo os sinais vitais. Eu fiz cara de paisagem. Ela fechou a porta e eu me levantei (óbvio). Logo em seguida uma outra enfermeira veio e disse “eu vi que a coisa tava feia lá fora quando tu entrou pelo jeito que tu te contorcia de dor. Tá bem perto de vir o nenê. Deixa eu tirar essas coisas de ti”, então pude voltar a me mexer livremente. Eu não tinha vontade de gritar, só tinha vontade de me mexer na hora da dor. Me apoiar em alguma coisa e receber uma massagem na lombar. Abri a porta e pedi para chamarem meu marido. Tive uma pequena discussão com a enfermeira, que disse que ele estava fazendo minha admissão ainda. Eu disse que eu sabia que ele já havia feito e que eu queria ele agora, pois no outro parto demoraram muito pra chamar ele e eu fiquei muito tempo sozinha. Ela ligou para a mulher da admissão olhando para os meus olhos e recebeu a resposta de que ele não estava mais lá, mas sim aguardando na sala de espera. Nisso meu médico chegou e fez novamente o exame de toque. Disse as mesmas palavras da plantonista “Dilatação total. Arruma a sala!” e acrescentou “quero a cama nova!”, quando veio a resposta de que a “cama nova” estava sendo utilizada. Ele fez várias perguntas para as enfermeiras para entender porque não daria para termos a cama nova.

Porque a cama nova? É que meu médico me explicou que solicitaria a “cama nova” do hospital porque eu poderia subir nela e achar a minha posição. Teria como eu me apoiar nas barras que ela possuía se eu quisesse ficar de cócoras, além de conseguir deixar o encosto para as costas bem verticalizado caso eu quisesse apoiar ali. Enfim, era mais um recurso que ele achava interessante termos na sala de parto para que eu pudesse usufruir.

Uma enfermeira respondeu então que colocaria a banqueta de parto em cima da cama antiga e eles seguiram falando sobre camas e banquetas e posições… tudo isso rolando no corredor e o Thiago chegando, já vestido com aquela roupa verde e uma touca. Assim que ele entrou no quarto eu pedi que massageasse minha lombar. As mãos dele funcionavam como duas grandes compressas quentes. Era muito melhor encarar a contração com ele ali. Passadas umas 3 contrações eu disse “Vou começar a ter vontade de fazer força!” Meu médico disse para então irmos para a sala. A enfermeira perguntou se eu queria ir de cadeira de rodas. Meu médico e eu respondemos ao mesmo tempo “Não! Ela vai/Eu vou caminhando!”. O Thiago rapidamente juntou minha bolsa, meu celular e meu vestido e foi guardar no armário (não sei onde fica esse armário, mas aleluia que era bem perto de onde estávamos). O médico foi se encaminhando para a sala de parto e uma enfermeira ficou comigo para me acompanhar. Ela ainda fez uma massagem nas minhas costas em uma contração antes de irmos. Mas então veio aquela vontade de empurrar. Eu me ergui e fiz força instintivamente com a contração. Nessa hora fiz xixi. (Dessa vez não fiz cocô no parto). O médico voltou e só colocou a cabeça pra dentro do quarto e eu disse que achava que tinha feito xixi. Ele confirmou e mandou a gente ir pra sala de parto. Comecei a me tremer toda enquanto falei: “Não vai dar tempo! Vai ser agora!”. Arranquei o avental que só estava me incomodando e veio uma segunda contração do período expulsivo! E a bolsa rompeu! E senti mais uma coisa! Eu sabia o que era! A Gabriela havia coroado! Coloquei a mão e senti o topo da cabecinha dela! Gritei “Jeaaaaaan! Thiaaaaago!” e nisso eu fui me agachando, apoiando um jooelho no chão, com a mão na cabecinha. O médico chegou se ajoelhando junto, mandando trazerem uma luva, colocando as luvas e pedindo para uma enfermeira pegar o celular dele que estava quase caindo do bolso da roupa em cima de todo líquido amniótico. Tudo muito rápido! Ele colocou sua mão sobre a minha e disse para eu não me preocupar que ele estava segurando. Eu não estava preocupada em “segurar” a nenê. Eu queria era sentir aquilo. A pele macia da cabeça dela. Uma sensação muito… interessante. Nisso o médico gritou pedindo panos esterilizados e a banqueta de parto. O Thiago já estava segurando minha mão, porém ele de um lado da cama e eu do outro. Entre o tempo de romper a bolsa, coroar e eu me agachar, parece que passaram vários minutos. Deu tempo para muita coisa. O Thiago conseguiu me pedir para ajeitar seus dedos que estavam sendo amassados por mim; conseguiu também passar para o meu lado da cama, se posicionando atrás de mim; a banqueta de parto voou por cima de mim; tentaram me fazer sentar na banqueta, mas eu sentei bem na beirinha porque não consegui entender na hora como ela estava posicionada; o médico me indicou onde eu poderia me segurar na cama ao meu lado; e, depois de tudo isso, eu ainda pensei: “Cadê a próxima contração para eu poder empurrar mais uma vez?” Então externei meu pensamento: “Por que não está vindo a próxima contração para eu poder empurrar?” ao que o médico respondeu: “Letícia, não se passou nem um minuto”. Hahaha. Logo depois eu avisei “Tá vindo!” E como uma onda, a contração veio e trouxe a Gabriela para as mãos do médico, que habilidosamente aliviou o pescocinho dela que estava com um laço de cordão e me disse: “Me ajuda aqui, Letícia”, para que eu pegasse ela. Meu corpo estava amolecido. O Thiago estava com as mãos um pouco abaixo dos meus ombros e eu não consegui mover meus braços naquele momento. Pedi pro Thiago me “soltar” e então EU consegui me soltar. Estava com uma mão segurando num ferro da cama e a outra na banqueta. Então ela veio, bem rosada, para os meus braços. Colocaram alguns panos para que ela não perdesse calor e ficamos ali por cerca de dois minutos, então o médico disse que o cordão havia parado de pulsar e que o Thiago poderia cortá-lo. Dessa vez pude ver esse momento acontecendo. Também toquei o cordão para sentí-lo. (Voces sabiam que sai bastante sangue quando cortam o cordão? Eu não sabia…). Logo depois disso avisei que estava vindo uma contração para expulsar a placenta. A contração se encarregou sozinha de trazer a placenta à luz. Pude vê-la vindo ao chão. Uma senhora placenta! Enquanto segurava a Gabi com uma mão, com a outra ergui a placenta para olhá-la melhor (no parto do Arthur pedi que o médico me mostrasse ela, mas agora podia “olhá-la” com as minhas mãos). Me impressionei com o peso dela. Uma enfermeira pediu para trazerem uma folha para fazer um carimbo com a placenta. Eu achava que ela queria para ela hahaha, mas era um presente para mim. Disseram que é o formato da árvore da vida. (O Thiago morre de nojo dessa folha até hoje. Diz que fede. Mas nem é verdade). Vi que o Thiago estava tirando selfies nossas, então pedi que uma enfermeira tirasse fotos para nós. Me levantei com a Gabriela nos meus braços enquanto várias pessoas diziam “cuidado para não escorregar nessa sanguera!” (sim, sai muito sangue num parto. Tambem não sabia disso). Depois de tirarmos fotos, levaram a Gabi para pesar e medir. Enquanto isso, fui fazer os pontos em uma laceração que tive. Nesse meio tempo umas 4 ou 5 enfermeiras vieram me falar que nunca tinham visto um parto assim, tão natural ou que há muito tempo que não viam um. Então o Thiago trouxe a Gabriela até mim e, deitada, após fazer os pontos, ela mamou pela primeira vez. Ficou muito tempo comigo. Tanto logo que nasceu quanto nesse momento. Eu estava inundada pelos hormônios, pela emoçao, pelas mil sensações, imagens e cheiros! Por falar em cheiro, optei por não dar banho nas primeiras 24h para preservar o vérnix com o qual o bebê nasce e que é protetivo para várias coisas. E o bebê não fica com “cheiro de entranhas” como o Thiago achava que ficasse!

Então a Gabriela nasceu, com 3,780Kg e 48,5cm, às 5h52min e recebeu Apgar 10 e 10, de um parto vaginal, sem quaisquer intervenções, muito respeitoso e emocionante!

E assim seguimos, felizes, satisfeitos e muito gratos, depois desse (re)nascimento.

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