Relato do Parto

 

Esse é o MEU relato do parto, do pai.

 

Dia 23/04/2018…
Já fazia uns 2 anos e meio que a Letícia estava grávida
(pelo menos era o que parecia)
Já fazia umas 2 ou 3 semanas que a sensação do “É HOJE!” estava pairando em nossas cabeças… Já estava até cansando… Tava se tornando um “Acho que não vai chegar mais… Deve tá presa no Centro de Tratamento em Curitiba”
Já fazia 3 dias que o Arthur estava dormindo fora de casa pois estávamos com a sensação/expectativa que o parto seria logo…
Estávamos com saudade, então resolvemos que ele ia dormir com a gente nesse dia mesmo…
22h30 fizemos ele dormir e levamos para o quarto.
Jantamos, arrumamos a casa, vimos uma série.. e fomos dormir perto da 1h da manhã.

Eu gosto de dormir virado pro lado de fora da cama, pq a Lê respira na minha cara feito uma turbina de avião se eu durmo virado para o meio…
Então meio que foi uma surpresa quando eu acordei, por volta das 4h30 da manhã com uma mulher me encarando, meio de pé… meio agachada do lado da cama… que só esperou eu abrir o olho pra mandar “Acho que agora vai!!”

Então agora vai!!!

Ela acordou com a dor das contrações, já de 7 em 7 minutos… O Arthur também nasceu na madrugada, então além de já ser a nossa experiência era também um mini desejo, pois foi muito tranquilo pra ir até o hospital sem trânsito e tudo mais… E agora ia precisar ser rápido mesmo!

A Lê ligou para as irmãs, que moram aqui perto.. Uma ia ficar com o gordinho aqui em casa, enquanto a outra nos levaria para o Hospital…
“Nossa, que roscão… tava tão abalado que não conseguia dirigir Thiago?”
“Não, só pensei no futuro dos meus filhos.. Pq se eu fosse dirigindo, e deixasse o carro no estacionamento do hospital por 2 dias teria que vender tudo que temos, e pedir um empréstimo pra pagar…” (Sim, esse parágrafo foi basicamente pra deixar essa crítica aqui =) )

Saímos de casa por volta de 4h50…
No caminho consegui fazer 1 stories, dar uns gritinhos estranhos de euforia e
chegamos no hospital as 5h…
A gabi tá vindo!

 

rpsite2

 

24/04 – 5h da manhã
Chegamos…

Pega crachá, espera elevador, sobe pro 8º andar…
Enquanto a Lê entra para a sala de “triagem” vou preenchendo 14 mil papéis e assinando o que vem pela frente…
Já vou me acomodando na sala de espera… pq no nascimento do Arthur eu mofei ali naquelas poltronas por mais de 1 hora até permitirem que eu fosse lá pra dentro.

Dessa vez foi diferente, não demorou muito e me chamaram…
10cm de dilatação.
Guardei as bolsas no vestiário, coloquei aquela confortável roupa verde e aquele diabo de toquinha que não foi feito pra cabeças normais… e fui encontrar ela ainda na sala de triagem/pré-parto…

Tava na posição que Napoleão perdeu a guerra, escorada na cama com contração…
Entrei e ela já pediu pra massagear as costas dela… Enquanto fazia isso, olhei na parede um cartaz com algumas posições que o pai poderia fazer pra ajudar, não entendi nada e continuei massageando…

1…2…3 contrações

“To com vontade de empurrar”
“Eita caraio”
*Médico entra na sala
“To com vontade de fazer força”
“Prepara a sala de parto!” (falando com a equipe)

“Vamos pegar uma cadeira de rodas pra ela” (diz a enfermeira)
“Não quero, vou ir andando mesmo” (diz a mulher cheia de hormônios)

“Vai lá guardar as coisas dela que já vamos pra sala de parto” (me diz o médico)
Ok… Junto bolsa, celular, roupa e tudo mais que estava ali pela sala de triagem, e vou pelo corredor até o vestiário…

Ao terminar de guardar penso: “será que ainda estão lá, ou já foram pra sala de parto?”
Resolvi voltar lá pra ver…
Estou a 5 passos da porta e ela grita lá de dentro:
JEEEAAANNN (médico) THIAAAGOOOO (eu)…

Visshhhhhh (provavelmente o som que meu corpo inteiro fez)

Entramos correndo na sala, eu e o médico…
Lá estava, minha mulher…
Meio agachada, meio ajoelhada, meio de pé, escorada na cama com uma mão, enquanto a outra tocava/segurava a cabeça da nossa filha…

Sim, ia ser ali, agora.
Na pequena salinha de triagem…

 

O médico já entrou deslizando de joelhos, como um jogador de futebol comemorando um gol (tá, exagerei)… Mas ele já entrou ficando de joelhos e tocando a cabeça da Gabi pra ver qual era a situação…

Eu, sem saber o que fazer, vi a mão da Lê sobre a cama e segurei… Ela e o médico do lado de lá da cama, e eu do lado de cá…. Ela me olhou, e apertou forte a minha mão…

FORTE!

Não bastasse apertar forte… sabe quando a aliança dá aquela beliscada no dedinho do lado?.. É.. tava doendo pra cacete, mas a mulher tava parindo uma criança ali.. eu não ia reclamar de dor no dedo, né? Seria no mínimo insensível, pensei eu….

Quando termino esse pensamento altruísta, ela DO NADA simplesmente DOBRA a força que tava apertando a minha mão… E com uma pequena lágrima no olho eu sussuro “amorzinho, deixa só eu ajeitar aqui…”

Nisso o médico já tá gritando a lista de coisas pras enfermeiras trazerem:
Luva
Gase
Pano
2kg de alcatra
Carvão

E elas já estavam ali com tudo antes de ele terminar de pedir.

Aí trouxeram uma banqueta, que ele já havia pedido, mas tinham levado lá pra sala de parto… E em uma coreografia mágica, digna de olimpíadas, passaram a banqueta por cima de todo mundo, colocaram embaixo da Lê e eu fui para um cantinho minúsculo atrás dela, entre a cama e a parede… E lá estava eu, de pé, atrás da Lê, sentada na banqueta.. E o médico ajoelhado na frente dela…

Ela tinha feito 1 força antes e já tinha coroado (quando uma parte da cabeça do bebê dá um Oi ali)… E agora na banqueta ela diz “vai vir dnv”

Sabe aquela sensação quando tu tá na estrada e vê que tem um bicho atropelado mais pra frente… Tu não quer olhar, mas meio que quer, e não sabe se olha ou não? Era o que eu sentia
Lá de cima eu virei a cabeça pro lado da janela, mas meu olho ficava escapando e olhando pra baixo, pra ver o que que ia rolar…

E eu vi… Saiu feito uma tilápia molhada em um movimento rápido e desengonçado direto pras mãos do médico a coisa mais linda que eu já vi.
Nessa hora eu estava com as mãos nos ombros da Lê, mas ela conta que eu tava segurando os braços dela, tanto que o médico disse “Me ajuda aqui Letícia, pega ela”
Já veio para o colo da mãe, gordinha e rosada…
Olho pra baixo e no meu pequeno espaço de 50cmX50cm estou completamente ilhado de sangue e líquidos de grávida, meu tênis ainda tem um cheiro estranho até hj…

Nisso o médico já me passa a tesoura e eu liberto a pequena Gabi para o mundo, cortando o cordão umbilical.

Olho na direção da porta.. e uma galera parada olhando!
A sala que estávamos, de triagem/pré-parto é a 3 passos do posto médico/recepção… Então acho que tinha umas 10 pessoas além de nós ali, numa mini salinha…
Acho que até o cara que conserta a máquina de café tava ali…

Todo mundo com um sorriso no rosto, enfermeiras dizendo que nunca tinham visto um parto desse jeito…

Aí a enfermeira pega o meu celular que tava na janela e começa a tirar fotos nossas, a Lê recém tinha parido e já tava, pelada, de pé com a Gabi no colo tirando foto…
Mas o mais legal sabe o que é? O celular não era meu, era do médico….
Então tem nudes da minha esposa ensanguentada no celular do médico.

Teve uma coisa que rolou, que eu nem lembrava do parto do Arthur que é o “segundo parto” ou sei lá como que chama… que é quando a placenta sai.
A Lê ainda na banqueta, com a Gabi no colo, pariu uma baita duma placenta!
E pra variar, eu fui lá olhar…
Só digo uma coisa pra vcs: Não como mais Entrecot.
Mas fiz uma foto artística disso…

Mas meu interesse na placenta durou cerca de 3 segundos, bem diferente se comparado com a minha mulher e com as enfermeiras, que foram buscar uma folha de ofício pra botar embaixo da placenta e fazer um “carimbo” dela ahahahahah…

Mas sério, entrecot nunca mais…

Foi uma bela loucurinha esse parto, mas foi lindo!
O desejo da Lê sempre foi ter um parto mais natural, tentar parir de pé, essas coisas.. E dificilmente teria como ser mais natural do que foi…
O trabalho de parto mesmo, a hora do vamos ver, durou minutos…
Com ela praticamente fazendo tudo por ela…

Aí veio a Gabi,
24/04
às 5:52
3,780kg
48,5cm

E o nosso copo, que já estava cheio, transbordou.

rpsite3

Add Comment